Blog Clara Nunes: Correio Braziliense - Clara ainda emociona os fãs

02 abril 2013

Correio Braziliense - Clara ainda emociona os fãs



Após 30 anos da morte de Clara Nunes, a cantora continua emocionando os fãsMesmo depois de três décadas, Clara Nunes ainda é referência musical para novas gerações de cantoras



Publicação: 02/04/2013 07:30 Atualização: 01/04/2013 17:34
 (Wilton Montenegro/Divulgação
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Há exatos 30 anos, o Brasil chorava a perda do canto imponente de Clara Nunes. A mineira guerreira, com vestido rendado, pulseiras, tiaras e farta cabeleira vermelha evocava as raízes africanas em seu samba, que sacramentou o poder feminino na música brasileira. Com o LP Alvorecer, ela foi a primeira mulher a ultrapassar a marca de 500 mil cópias vendidas. Sua interpretação e sua estética inspiram até hoje gerações de cantoras e parceiros antigos não cansam de reverenciar a diva que teria completado 70 anos em 2012. “Clara era a própria representação da força brasileira. Veio de uma pequena cidade mineira chamada Paraopeba e nunca perdeu a simplicidade e a humildade. Ela marcou a alma do povo pelo canto simples e pela maneira de ser”, afirmou Paulo César Pinheiro em entrevista feita em 2011. Viúvo da cantora, ele teve mais 20 composições gravadas por ela — hoje em dia prefere não comentar o passado.

Em Brasília, Clara também é fonte de inspiração. Artistas da cidade, como Ana Reis, Cris Pereira e Renata Jambeiro (veja o quadro) mantêm vivo o legado deixado pela estrela. “Ela continuou um trabalho começado por Carmen Miranda, ao falar de miscigenação, ter malícia, ser dona da letra, e principalmente, mostrar que mulher também podia vender disco”, diz Renata, que não abre mão de músicas da cantora no repertório.

Essa influência é nítida em todo o país. A cantora pernambucana Karynna Spinelli, dona de uma estética muito semelhante à da artista mineira, fez um tributo recente, em Recife, com duas mil pessoas na plateia e a participação do músico Jorge Simas, que acompanhou Clara. “Toda a história dela me sensibiliza e emociona, mas escolho, em especial, a honra e a coragem de falar do candomblé. Em dias de intolerância religiosa forte no Brasil, ela é uma das minhas inspirações para falar de religião. Sinto-me livre e sem amarras para cantar a força dos espíritos e dos orixás com minha música”, conta Karynna.

No Rio de Janeiro, a memória de Clara pulsa nas obras de antigos parceiros. Delcio Carvalho teve sua história transformada pela cantora e acabou mudando o curso da carreira dela também: ele é o compositor da música Alvorecer. “Depois, Clara gravou Derramando lágrimas. Cheguei a mostrar Sonho meu (criada com Dona Ivone Lara), mas achei que ela não tinha gostado. Sorte que Maria Bethânia estava procurando algo para gravar, gostou e a música acabou acontecendo (risos). Com exceção das que já nasceram na tradição, como Elza Soares, Clara foi a maior cantora de samba do país”, lembra o sambista carioca.

Material raro

As homenagens a ela nunca cessaram, mas ganharam fôlego com a proximidade do septuagésimo aniversário. Em janeiro de 2011, o projeto Contos de Areia — 70 Anos de Clara Nunes reuniu músicos no CCBB Brasília para revisitar a obra da artista. Na Sapucaí, o enredo de 2012 da Portela foi “... E o povo na rua cantando. É feito uma reza, um ritual”, saudando a Bahia e Clara. Em dezembro, o Canal Brasil exibiu uma série com depoimentos de amigos e familiares, primeiro episódio de uma sequência de tributos organizados pelo jornalista Vagner Fernandes, autor da biografia Clara Nunes — Guerreira da utopia.

“O objetivo da série Clara era traçar um panorama da trajetória da Clara artista e da Clara mulher. Mas tínhamos o tempo como limitador. Há muito o que se falar sobre ela, então a série será ganhará materiais extras antes de chegar aos cinemas”, conta Fernandes. Além do filme dirigido por Darcy Burger, o biógrafo revisou os 16 álbuns da cantora — que serão relançados em formato avulso e em box — e reeditou o livro lançado em 2007 e há um ano e meio esgotado nas prateleiras. “É uma edição revista e ampliada. Quero incluir informações como o encarte todo em japonês de um programa que ela participou naquele país, e áudios inéditos”.

Entre essas raridades estão as gravações do show Sabor bem Brasil, em que Clara canta ao lado de Luiz Gonzaga, João Bosco, Waldir Azevedo e Altamiro Carilho; da apresentação em Abidjan (Costa do Marfim) com João Nogueira; e dos ensaios do show Sabiá, sabiô, com direção de Hermínio Bello de Carvalho. Os materiais são do técnico de som Genival Barros, que trabalhou com a artista mineira e hoje faz parte da equipe de Roberto Carlos. “Fui buscar outra gravação com o Genival, quando ele disse que teria algo melhor do que eu procurava. Isso foi no fim de 2011. Sabiá, sabiô tem músicas que não faziam parte da discografia oficial dela, como Quando o carnaval chegar, de Chico Buarque”, diz Fernandes.

Assim como os projetos anteriores, uma exposição dedicada à cantora está prevista para o segundo semestre deste ano. A mostra acontecerá no Rio e terá vídeos, áudios e imagens inéditas. “Quero contar de fato quem foi Clara Nunes. Dar a Clara o que ela merece. Ela é uma das maiores cantoras do Brasil. E digo no presente porque 30 anos depois ela continua sendo lembrada. Clara e sua obra são atemporais”.


Salve, Clara! CONTINUA:

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